segunda-feira, 25 de abril de 2011

14 horas (Helsínquia)

A Finlândia estava na berra em Portugal. Bem posicionada para ganhar as eleições, a extrema direita prometia boicotar o plano de ajuda económica ao parceiro luso. Fomos espreitar.

Tínhamos 14 horas para perceber o que se passa. Era esse o tempo entre voos. Chegámos exatamente no dia das eleições. Quem diria?

Propaganda amontoada nas paredes? Nem vê-la! Grandes outdoors com os “carismáticos” líderes políticos? Onde??? Bandeiras, autocolantes e adereços afins? Nem pensar…

A informação ao eleitor é bem simples: tv, rádios e meia dúzia de cartazes em locais estratégicos. De tamanho “decente” e com preocupação informativa: a foto de todos os candidatos. Para que todos saibam quem integra o projeto. Quem se propõe defender os interesses dos finlandeses.

A “boa nova” chegou através do iphone do Tiago. O inevitável português em qualquer lado do planeta. A extrema direita tinha vencido as eleições. Sarilhos para Portugal. Os jovens que estão no bar têm dificuldades em acreditar no resultado. Encolhem os ombros.

Bebemos um chã. Purgar os males futuros. Nada de festa nas ruas. Alguns vitoriosos encaminham-se, ordeiramente, para o parlamento. Não fossem os cachecóis iguais e pensaríamos que se tratavam de normais transeuntes.

Tiago está há cinco anos na Finlândia. Não pensa voltar a Portugal. Não gosta da mentalidade. “Das inúmeras queixas sobre tudo e mais alguma coisa, acompanhada de uma passividade total na hora de agir. Não há estômago para isso”. Como bem te entendemos, Tiago.

A baixa de Helsínquia continua bonita. Calma. Tranquila. Alguns edifícios imponentes. Arquitetura sóbria. Muita água na paisagem. Nos arredores ainda há neve a cobrir a natureza.

Trouxemos-lhes sol. Aproveitamo-lo imóveis uma hora em banco de jardim. A apreciar as rotinas locais. Alguns turistas. Muitos finlandeses a absorver a energia solar.

Jantar rodízio de pizzas. Saladas. E sopinha! Hummm… que saudadesssssssssss!!

Após ultimo copo, hora de voltar ao aeroporto. Check in às 03:00 não é estimulante. Não havia alternativa.

Correu tudo bem. Estamos em casa.
Leia mais...

sábado, 23 de abril de 2011

Last day in Índia

Baldámo-nos e perdemos o jantar. Desenrascamo-nos com dois gelados para cada um. De qualidade e segurança mais do que duvidosos. A esta hora, não havia alternativa.

O relógio não enganava. Tínhamos, na melhor das hipóteses, quatro horas para descansar. Antes das 06:00 já deveríamos estar a pé. E com as malas prontas.

A perdição chegou da caixinha que mudou o mundo. Alterou a nossa noite. Real Madrid – Barcelona. Duas horas de “descanso” em vez de quatro. Assim até dormiríamos melhor no avião. Talvez…

A caminho do metro, tempo para gastar as últimas rupias. Pedem-nos por duas bananas o mesmo que tínhamos dispendido por um quilo na véspera (e já aqui tínhamos pago tipo o triplo do valor de mercado).

Má reação. Respondem-nos com um trocista “bye bye”. Aproximamo-nos dos idiotas (pelo ar que tinha a dupla, não pela atitude de “mercado”) e dizemos-lhes algo (que, obviamente, não nos lembramos) em inglês. Seguido de qualquer coisinha em português. Temem a nossa expressão. Engolem em seco. Levámos a nossa “ira” matinal para outra freguesia.

Já no metro, percebemos que já tínhamos abandonado a Índia. Ou quase. É, realmente, um meio de transporte bom, eficiente, novo. Estreou há semanas. E, por isso, ainda subaproveitado.

Fico a aguardar à porta do aeroporto. Vasco caminha longos metros para oferecer a última roupa. Seguimos para Check in. Pequeno almoço de seguida. Depois, sim, últimas rupias.

Fazemos mal as contas. Sobram 100. Já junto ao local de embarque, vamos comprar bebidas. Máquina não aceita a nota. Vasco percorre mais cinco pontos de venda automáticos. Nenhum quer o nosso dinheiro.

Cada um segura numa ponta da nota. Afastamos as mãos. Tive sorte. Fiquei com o Gandi.

Mostrámos bilhete, dirigimo-nos ao avião. Descemos degraus. Controlo surpresa da polícia. A confirmar o número de sacos. Estranho. Andámos mais 30 metros, novo controlo. Ainda mais invulgar. “É para vossa segurança”, respondem-nos, quando, com ironia, pedimos emprego.

Quatro lugares centrais só para nós. Podia ser pior. Estamos bem instalados. Prontos a levantar voo.
Leia mais...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Frank, tu matas-nos!


Foi com sensação interior de “incomplete” que abandonámos Jaipur. Acreditávamos que estava ali uma outra Índia para se revelar. Depois de questões de saúde, foi o tempo a não permitir. Temos pena. Mesmo.

Às 06:00 já o comboio expresso rumava a Nova Deli, a nossa última etapa. Sem paragens ou escalas. Uma maravilha. Um fim de manhã, toda a tarde e o que restasse da noite para as ultimas coisas antes do regresso a casa.

Compras de ultima hora, cambio do derradeiro dinheiro e despedida do Frank, que continua a sua viagem. Estará pela Ásia quatro meses e meio. Inveja. Muita.

“Acalma-te, miúdo. Agora vais estar só. Tem juízo, não percas a cabeça. E tem resto de excelente viagem”, dissemos-lhe, após abraços sentidos. Como se fossemos amigos há uma vida.

Nas cinco horas de comboio, Frank teve tempo alguns comentários com locais que podiam ter degenerado em conflito. E o seu estado instável preocupava-nos.

“Como é que vocês aguentam um país assim tão porco?”, começou por questionar a surpresa plateia, antes de pedir “10 rupias” pelos óculos que uma esteticista deixou cair e ele apanhou.

Para finalizar em grande, perguntou porque é que Shiva, o deus maior dos hindus, fuma umas “ganzas”.

Nesta altura, um silêncio embaraçoso na cabine. Todos a olhar para o Frank. E para nós.

“Não, isso não é verdade”, assegurou um dos interlocutores. Com um olhar e tom que não admitia duvidas.

Ainda assim, o nosso bom amigo insistiu. “Sim, garantiram-me isso no Nepal. Que Shiva fumava droga. Era marijuana? Haxixe? É por isso que na Índia todos fumam drogas?”.

Temperatura a subir. Abruptamente. Rostos rubros. Respirações aceleradas. Do lado indiano. Plano de emergência. Do nosso.

“Qual o melhor mercado para comprar roupa em Deli?”, atirei. Vasco pegou imediatamente em papel e caneta para nos registarem essas dicas. E o assunto morreu ali. Já devia ter acabado antes…
Leia mais...

terça-feira, 19 de abril de 2011

Uma oportunidade na Cidade Rosa


Desperto com pedal ímpar. Acordo Vasco. Tiro o Frank da cama. Não há hipóteses de recusa para ninguém. Há que sair. Vencer o infortúnio. Derrotá-lo por KO. Num ápice vejo que estamos os três com o mesmo espírito. Em breve, as ruas de Jaipur são nossas…

Dirigimo-nos ao centro. Ao histórico centro, todo em cor de rosa. Como num conto de fadas. Em 1876, o marajá mandou pintar a cidade dessa cor para a visita do Príncipe de Gales. Desde então, a zona “velha” é regularmente pintada.

Jaipur tem três séculos. Foi a primeira cidade “planeada” da Índia. Ficámos impressionados com arquitetura rendilhada. Com palácios e edifícios em grés.

Fomos ao Palácio da Cidade, o maior. Ainda hoje alberga a família real. Perdeu o poder, mas mantém o estatuto. Um complexo de vários edifícios, de estilos distintos, com utilidades diferentes. Aqui podem ver-se exposições de pintura, apreciar têxteis, almoçar ou surpreender-nos com coleção ímpar de armas…

Acabámos por investir muito tempo neste belo complexo. Admirável a fachada Hawa Mahal do Palácio dos Ventos. 943 janelas que visavam dar privacidade às esposas, amantes e concubinas do imperador Sawai Pratap (no século XVIII) enquanto observassem a rua.

O tempo voou. A sopa de tomate que arriscámos comer (o local impunha sentir algum prazer real) revelou-se duvidosa.

Voltámos à “confusão”, fora da zona real, para nos deliciar nos milhares de pequenas lojas que polvilham as ruas traçadas a esquadro. E a tal régua da primeira cidade planeada da Índia.
Cores e odores. Foi o que mais nos deliciou. E uma carroça puxada por um camelo.

Cansados. Horas de voltar ao hotel e preparar o jantar. Não-indiano. Por razões óbvias. Decidimos procurar o que ia ser o primeiro e último centro comercial das férias. 1 hora a pé. Mais 10 minutos de tuc tuc. Missão cumprida.

Praça da alimentação curta, mas suficiente. Sopas. E pizzas. Conhecemos vários turistas. Destaque para grupo “chique” de norte-americanos. Simpáticos. Endinheirados. Um raide de seis dias pela Índia.

“Já estamos fartos desta comida. Quisemos recuperar um pouco os sabores que conhecemos”, justificaram. Como os entendemos…
Leia mais...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Dia de cão em Jaipur



O ânimo de estarmos no Rajastão, na capital Jaipur, esmoreceu ao raiar do dia.

Saímos cedo da caminha. Mas foi também prematuramente que entendemos que não poderíamos andar longe do hotel. Melhor: eu precisava andar muito perto do WC e o Vasco de descanso face às dores musculares. Antes de ser atacado pelo mesmo problema que eu...

Um trio de ataque, completamente à defesa. Enclausurado no hotel. O Frank nem saiu da cama.

Impacientes, eu e Vasco ainda nos aventuramos a sair – eu estava há quase 24 horas a água e coca-cola, sem comida, receita depois seguida pelo Frank – mas a aventura não durou muito.

Procurámos desesperadamente um restaurante “não indiano”. De qualquer tipo. Caminhámos de um lado para o outro. Ninguém sabe nada. Finalmente, a recompensa. Ou o castigo: McDonalds.

Fechei os olhos aos meus princípios. Raios, que se lixe! Já só sonhava com um suculento BIG Mac (ou outro maior) e uma coca-cola gelada para me rasgar a garganta. Estava calor. E pó.

Entrámos. Pois… Índia… Vacas… só há mesmo hambúrgueres de frango. E picantes. Duas dentadas. Desisto. Vingo-me em dois gelados. Alarme. Organismo protesta. Hora de voltar para o hotel. E rápido!

Três a quatro horinhas de cama durante a tarde. Um luxo há muito não experimentado. Há que aproveitar.

À noite, o sono não vem. FC Porto joga na Rússia. Há que improvisar novamente forma de ver o jogo. Conseguimo-lo. Às prestações de imagem. Na prática, conseguimos ver apenas um golo em “direto”. O segundo do Spartak.

O dia acaba mais longo e menos rico do que o desejado. Dormir e esperar por melhor sorte quando o sol nos der nova oportunidade.
Leia mais...

Bus até Jaipur



Não chegámos a dormir em Agra. Tínhamos pressa do Rajastão. Jaipur era o objetivo. Acabámos por “sacrificar” o forte de Agra, a uns dois quilómetros do Taj Mahal, e metemo-nos a caminho. Havia um “maior e mais interessante” em Jaipur.

As prometidas “quatro a cinco horas” de viagem viraram sete. A paisagem foi mudando.

Primeira auto-estrada. Até tem portagens. Subitamente, motorista muda de rumo. Segue determinado, contra a mão. Gentil, encosta-se, para deixar passar quem vem em sentido contrário, e cola a mão na buzina. Julgávamo-nos livres deste tipo de filmes.

Uma paragem “técnica” bem recebida por todos. Cada um alivia-se como e onde pode. Os intestinos deixam de ser problema exclusivamente meu. Amanhamo-nos como podemos. Ao ar livre.

Primeira vez em autocarro “sleeper”, embora não fossemos usar as camas. Ainda bem. Se precisássemos, dificilmente teríamos direito a ficar com o espaço pago. Demasiados passageiros para tão poucos lugares.

Anoitece. Finalmente, Jaipur. Semáforos. Um centro comercial. Estamos em outra Índia.
Leia mais...

Taj Mahal



Ganhou fama de ser a maior prova de amor da história. Um afeto tal que virou lenda. É, também por isso, uma das sete maravilhas do Mundo.

Beleza em mármore branco. Incrustado com fios de ouro e pedras semipreciosas. Inscrições retiradas do Corão dão outro significado à obra.

Entre 1630 e 1652 foram cerca de 20 000 os homens que trabalharam arduamente para erigir aquela imagem de perfeição.

É o ex-líbris da Índia. A imagem que simboliza um país. O orgulho da nação. Uma obra extraordinária. Em qualquer lugar. Mais ainda numa nação marcada pela pobreza de demasiados milhões.

O imperador mongol Shah Jahan (sim, poucos o sabem, mas a Índia bem pode agradecer à invasão do então poderoso “vizinho”) foi o responsável por esse ícone, dedicado à esposa preferida. Quando morreu após dar à luz o 14º filho.

Os indianos pagam 20 rupias para visitar a sua maior vaidade. Os estrangeiros 750 (uns 12 euros). Apenas 37,5 vezes mais. Apenas. Ao menos, aqui, o “esfolar” do turista é assumido.

Comida, tabaco, isqueiros ou corta-unhas. Nada disso passa no controlo de segurança. Por isso, há que deixar a mochila no “lock room”. Pena que este não esteja à entrada e tenhamos de andar quase 10 minutos para cada lado.

Tempo para fotos. Tempo para desfrutar de toda a beleza. Tempo para pensar em como naquele tempo os sentimentos tinham outro valor. Tempo para saber que hoje seria impossível a repetição de gesto semelhante. Talvez até alvo de chacota. Ainda assim, tempo de plenitude. Tempo para nós.

Já com o Taj Mahal pelas costas, mas ainda dentro do complexo, a televisão filmava um programa com umas seis loiras. Nenhuma delas de parar o trânsito. Longe disso. Ainda assim, indianos encavalitados de máquinas fotográficas em riste. Loiras com ar preocupado. No lugar delas, e com as histórias que ouvimos, estaria igual.


A polícia bem tentou abrir caminho. À bastonada. Mas nem assim o tráfego humano normalizou. Nenhum dos muitos babados desmobilizou.


Indiferente ao insulto, o Taj Mahal continuou vigoroso, belo, altivo. A imperar no horizonte.
Leia mais...