segunda-feira, 11 de abril de 2011

Dhampus on Fire!


A única dúvida era saber em que ano estávamos. O filme parecia do início dos anos 70, mas os coloridos personagens remontavam certamente a um tempo em que o mundo vivia a televisão ainda a preto e branco.

Enorme espanto foi o eufemismo que nos invadiu. Eram milhares os rurais nepaleses que coloriam o singular palco da festa. Desporto, musica, dança e as distracções habituais, presas a um tempo que nos devolve imagens de infância.

O Nepal está a comemorar a transição para o ano… 2068, mas, na verdade, juraríamos que seria um século, um milénio menos.

De toda a região, milhares de pessoas treparam horas serra íngreme acima para viver este festival cultural em Dhampus. Uma festa com intensidade suplementar, pois este ano o Nepal dedica-o ao turismo.

Kusturica não teria pintado um cenário assim no mais inspirado dos seus filmes.

Enquanto decorria um concorrido torneio de voleibol, em que apenas uma das várias equipas se apresentava com equipamento uniforme, o palco era cenário de espectáculos musicais, anúncios e cómicas encenações teatrais.
Mais ao lado, uma roda “gigante” movida pelo suor e pés de dois “malabaristas”, que, com as suas proezas nas alturas, sem “rede”, captavam a atenção das e admiração das miúdas.

Também movido a energia humana, um pequeno carrossel térreo, ainda assim igualmente propício a acidentes por evidente falta de segurança, completava o lote das principais infra-estruturas de apoio ao evento.

Com 10 rupias (uns 10 cêntimos) tínhamos noutro lado direito a três argolas para “pescar” um sumo ou notas de 10, 20 ou 50. Pelo mesmo valor, três bolas para derrubar uma cascata de 10 latas. Sobravam os que queriam tentar. E os que se maravilhavam apenas a ver.

Aqui, tudo tinha preço fixo para nós: o dobro. E de nada adiantou regatear. Azelhas nas argolas, vingamo-nos no coco.

A simplicidade e pobreza (apenas material) deste delicioso povo emocionou quando vimos um grupo de seis adolescentes/jovens adultas a namorar um estojo de maquilham. Um brinquedo mais simples do que qualquer um que se encontre nas populares lojas dos 300 em Portugal. Não, não era brincadeira. Os seus olhos brilhavam para algo extremamente rudimentar, com poucas cores. Jurávamos servir apenas para brincar com bonecas…
Irredutível, o vendedor. Não quisemos intervir, correndo o risco de constranger quem queríamos ajudar.

As nossas câmaras já disparavam sozinhas. Impossível esquecer ainda uma idosa que duvidava que as fotos que lhe tirávamos mostravam a sua imagem. Tocava o rosto e olhava para nós. Como se estivesse completamente perdida, incrédula com o seu reflexo.

Ficámos instalados na parte alta da aldeia. Um euro cada um e um simpático e amplo quarto triplo por nossa conta. WC fora da deliciosa habitação rural. A lembrar as da nossa infância.

Jantar delicioso. Pequeno almoço transferido para outro local. Subitamente, custava mais do que a noite e jantar juntos.

1 comentário:

  1. Fantástico!!! Mesmo sem saber foram presenteados com uma festa local...
    Isso é que é sorte!!! :-)

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