Tinha pinta de ser hábil com as palavras. Garantiu-nos que se destacava igualmente com a bola nos pés. Por isso, na sua aldeia, onde todos os jovens jogam futebol diariamente ao fim do dia, é conhecido por Deco. “Sabem quem é, certo?”.
Sorrimos. Acenámos com a cabeça.
Ao saber que éramos portugueses e, por motivos profissionais, conhecíamos pessoalmente, o seu ídolo, Deco não mais nos largou nesse inesquecível jantar à luz de velas. Aqui, a energia também chega a conta gotas…
Deco e os seus jovens quatro amigos são tibetanos. Refugiados no Nepal. “Aqui a vida é complicada. No Nepal não nos concedem a cidadania, pelo que temos ainda mais dificuldade em arranjar emprego”.
A responsabilidade é atribuída ao opressor chinês. “Mao Tse Tung chegou em 1959 com o pretexto de nos ajudar. Construir estradas e outras infra-estruturas no Nepal. Depois invadiu o país. Aniquilou uma nação, que se fragmentou e abandonou a sua pátria como pôde. Os chineses nunca nos deram paz. E continuam a faze-lo. O Nepal, politicamente muito instável, depende economicamente da sua influência. Por isso segue as suas instruções e até aqui somos marginalizados. Não temos direitos”.
Deco e os seus amigos estão em Dhampus para vender artesanato. Uma oportunidade rara de equilibrar as finanças da família. “É a única forma de tentarmos fazer algum dinheiro”.
Nada nos tentaram vender.
É incrivel como é possível viver em condições tão precárias. Não só pelas condições físicas em que vivem, mas principalmente pela ausência de direitos de cidadão livre. No entanto, com tanta riqueza espiritual!
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